terça-feira, 22 de novembro de 2011

Púrpura

PÚRPURA
BY DENIS LENZI

Em homenagem ao dia da consciência negra 20 de novembro


Em algum lugar da região européia, o céu cor de púrpura estava dominado pelas incontáveis aviões de guerra que voavam por todos os lados. Vista de longe, a cena mais se parecia com centenas de anjos negros travando guerra um ao outro. Alguns aviões explodiam literalmente logo após serem atingidos pelos seus inimigos mais próximos. Alguns destes perderam asas e despencaram rodopiando até atingir no solo distante, e logo após, explodir, formando uma labareda. Outros perseguiam implacavelmente atrás dos seus inimigos, atirando-os com as metralhadoras letais. Os sons dos motores de aviões eram terríveis e assustadores para os poucos moradores sobreviventes que sobraram naquela que naquela região que por sinal, estava completamente devastada pelas dezenas bombardeios e quedas dos aviões. Árvore e vegetação, tudo o que era belo, verde e florido, cedera ao lugar cinzento, coberto de destroços e ferrugens que caiam do céu. A visão daquela vasta paisagem era triste e arrasadora.


Markus, um homem negro de belos e raros olhos de cor violeta, quase uma púrpura, usava capacete com óculos de aviador, estava pilotando o avião com as mãos crispadas na direção, tendo sua testa suada e uma frieza de manter firme enquanto perseguia o avião inimigo. Ele era um dos poucos negros que serviram ao exercito norte americano no auge da segunda guerra para lutar contra os inimigos. Ele estava sofrendo naquele momento. Não pela batalha, mas pelo o que passou até agora. As pessoas que ele tanto amou (sua esposa e seu filho) se foram e ele não conseguiu se conformar com isso. Uma tragédia que fizera partir seu coração e que jamais curaria, nem que a cura fosse por muitos anos.


À medida que caçava ferozmente o seu inimigo, a sua mente se voltava para a última cena vista pela última vez, a vida da sua esposa e seu filho de 10 anos. Estava ela e seu pequeno menino correndo pelo vasto campo silvestre em uma manhã ensolarada. Eles estavam sorrindo. Markus estava sentado em cima do piquenique improvisado, mas a alegria que deveria ser longa e memorável, acabou se transformando em um terrível pesadelo, como um monstro estraga-prazer que surgiu do nada para acabar de vez com a alegria que reinava no ar. Markus avistou a vinda de um homem montado no cavalo branco que corria em sua direção e pressentiu que havia algo errado com aquele sujeito. Ele usava um estranho traje branco e estava mascarado, o seu traje, era o mesmo usado pela seita Klux Ku Kan, que tem assolado as cidades com objetivos de humilhar, ameaçar e até mesmo matar a comunidade negra que vivia naquela região norte-americana dominado pela maioria de brancos. Além disso, o que mais o assustou foi o fato daquele ser estranho segurar algo: uma garrafa com um pedaço de lenço em chamas, e parecia ter o propósito de usá-lo. Ele se levantou rapidamente para proteger a mulher e a criança, mas não houve tempo. Aquele cavaleiro branco lançou a garrafa, atingindo-a no chão, em minutos ficou em chamas, no local onde se encontra a sua família. Ouvia-as os berros e desespero, enquanto o cavaleiro já cavalgava para longe e podia se ouvir a sua risada. 


Markus fez tudo o que pode para salvar a sua mulher e a criança, mas as duas estavam terrivelmente queimadas e demoraram muito para serem levadas ao hospital. Eram tarde mais. E isso deixou Markus enfurecido e louco, mas depois do choque, caiu em si e se viu em um estado de depressão profunda e bebedeira, até que um dia decidiu alistar-se no exército, sabendo que a partir dali, ele teria uma oportunidade de participar da guerra e aguardar a morte lhe buscar. 


Os olhos do Markus estavam petrificados, de ódio. Estava fitando para aquele avião inimigo. Ele estava quase alcançando. Faltava alguns metros. Mas por pura falta de sorte, o avião inimigo desviou para o lado. Markus não se deu por vencido e mudou a direção. Em vez de seguir o avião, seguiu outro inimigo por estar mais próximo. 


Perto dali o avião do seu companheiro foi atingido e bateu um contra o outro, explodindo no ar. Pedaços de destroços em chamas espalharam, quase atingindo o dele. O avião inimigo apareceu por trás dele e Markus sentiu o vento tocar o seu rosto. A morte. Um tiro certeiro. O que sentiu naquele momento é a forte trepidação do avião, e logo seguida, envolvo nas chamas que o engoliu literalmente.


Markus abriu os olhos e viu o céu levemente púrpura, tão vívido, puro e transmitia uma sensação de paz. Estava deitado de costa sobre o vasto gramado onde havia milhares de flores cor de púrpura. Havia borboletas brancas e luminosas que voavam por todos os lados. Ele sorriu pela beleza do lugar. Parecia um sonho. Mágico. Étereo. Olhou para o céu. Sentia o aroma da natureza. Podia ver os galhos de folhas que variava entre azuis-anil mexerem-se de lado para outro. Era outono. Época que ele mais amava. Ouviu a risada muito familiar. Levantou-se para ver as pessoas e sorriu. Sua mulher. Seu filho. Ambos acenavam para ele. Ele está de volta para a terra de outono, da cor púrpura que ele mais adorava, com a família que tanto amava e merecia estar com eles e ser feliz para sempre. Sempre.


Texto e criação de Denis Lenzi, ao utilizar este texto, por favor, não se esqueça de mencionar a autoria.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Os Papeis do Destino




Derek está sentado no banco do ponto de ônibus, sozinho. Seus olhos abrem bruscamente e olha ao seu redor. Sua mão alcança alguma coisa, como que quisesse pegar alguma coisa - algo que deixou escapar! E logo percebe que não há ninguém por perto. Era uma tarde chuvosa e fria. Olha para o movimento na rua molhada. Seu pensamento está distante, em silêncio. Seu semblante está triste e uma lágrima que desce no rosto acaba por cair por cima do papel amarelo, e das palavras escritas nele. Vento gélido sopra seu rosto e arranca um pedaço de papel na sua mão, que voa para o outro lado da rua.

Caía a chuva cântaro por sobre aquela estrada longa e retilínea.
Surgiu um carro com os faróis acessos que iluminavam
a estrada de asfalto molhada,
com milhões de gotas de chuva brilhantes.
Os pentes do para-brisa moviam-se de um lado para outro,
enxugando as lágrimas de uma noite de tempestade.
Um homem gesticulava e sua voz parecia
um trovão ao expressar a sua raiva pela mulher
sentada ao seu lado.

Tamara está sentada no banco do ponto de ônibus. Está sozinha com um livro em sua mão. Atrás dela um enorme muro pintado totalmente de flores amarelas. Não há ninguém por perto. O sol brilha em seu rosto claro e sereno. Seu pensamento está focado nas palavras que transbordam nos papéis. Sua feição está incrivelmente triste. Algo aconteceu a ela. Vento primaveril sopra em seu rosto e arranca de sua mão um pedaço de papel rosado, que voa para outro lado da rua.

A mulher ao lado chorava, com seus olhos avermelhados e
tentava se acalmar em vão.
O homem pisou fundo, acelerando a velocidade,
deixando-a ainda mais aflita.

Derek espirra e ajeita o casaco. Olha suas mãos por um breve momento, tentando entende todas as coisas. O vento continua a soprar e um pedaço de papel rosado surge do nada e gruda em seu peito, como algo que agarrasse a esperança daquele homem solitário. Ele pega o papel rosado e lê.

O carro atravessou numa velocidade assombrosa
preste a decolar.
O chão da estrada estava escorregadio.
O motorista estava sendo muito imprudente naquela hora,
sem pensar na real conseqüência que poderia vir.

Tamara fecha o livro, ajeitando o cabelo. Coloca o livro em sua bolsa quando um pedaço de papel surge por sobre seu colo, que abre e revela as suas palavras impregnadas nele. As três palavras poderosas.

A mulher gritava, desesperada chorando muito:
Para! Para!! Pelo amor de Deus!! Está me assustando!”

Derek sorri após de ler um pedaço de papel e seus olhos marejam.

O rosto do homem estava tomado de cólera e de fúria.
As veias saltam do seu pescoço. Ele berra:
Tá com medo?” Ela sentiu o cheiro de álcool que exalava de sua boca.

Tamara sorri e sente seu coração palpitar com força. Parecia que tinha uma lembrança despertada. Algo que não se lembrava, mas que lembrou e que entendeu tudo.

A mulher chorava e implorava ainda, temia pela segurança dos dois:
Por favor, não deixe que o ódio domine você.
Eu te amo tanto, querido. Por favor, diminua a velocidade!

Derek, sentindo impulsionado a virar o rosto para o lado, como que alguém lhe chamasse, alguém que lhe esperando do outro lado. E assim o fez.

Ele a encarava com desdém.
Sentia raiva dela. Suas mãos agarravam o volante
com tamanha fúria e desvia-o.
O carro dá uma virada na curva da estrada e
por pouco quase capota.

Tamara suspira e olha para o outro lado da rua, sentindo uma estranheza - alguém lhe olhava. Não sabia por que e como, mas mesmo assim, virou o rosto para lado e viu o homem do outro lado da rua.

As lágrimas rolavam no rosto da mulher e
Ela colocou a sua mão por sobre a dele,
com a esperança de acalmá-lo e
fazê-lo diminuir a velocidade.

Derek vê uma mulher sentada no banco do ponto de ônibus, com lindos desenhos de flores amarelas pintado no mural atrás dela, formando uma bela imagem que agrada aos seus olhos.

O homem olhou de modo nervoso para a mulher,
que lhe clamava para que ele parasse com aquela loucura.
No colo dela há uma caixa
cheia de papeis coloridos e cada papeis há escritos neles.

Tamara contempla a beleza daquele homem sentado no banco do ponto de ônibus, que segura um guarda-chuva, embora não haja chuva naquela tarde. O homem acena assim que a mulher o olha.

O homem pisou o freio, e o carro escorregou,
deslizando por sobre
a fina camada de água na estrada,
rodopiando como um carrossel.
A mulher gritou desesperadamente.
As unhas do homem cravaram no volante.

Tamara, parada, com o seu coração almejando por aquele amor, vê-lo se levantar e atravessar a rua. Ela sorri.

O carro parou de rodopiar e as luzes dos faróis iluminavam 
em frente do longo mural pintado de flores amarelas. 
Foi por um triz. Mais dois metros seria atingido por 
aquele mural e os dois sairiam gravemente feridos. 
A mulher soltou um suspiro aliviado, 
mas lágrimas ainda rolaram seu rosto, 
olhando para o homem, cabisbaixo, caindo na real. 
“O que está acontecendo comigo?”

Derek chega em frente a ela. Ela fica sem palavra. Ele entrega um pedaço de papel rosado a ela. Ela entrega o papel amarelo a ele.

A mulher enxergou as lágrimas, e passa a mão no cabelo 
do seu marido, e disse: 
“Está tudo bem, meu amor!” 
o homem olhou para ela e seu rosto expressava um misto 
de arrependimento e choro. A mulher tirou o cinto de segurança e 
o abraçou. Antes que ele abrisse a boca, 
as luzes dos faróis por detrás deles invadiram o carro e 
ouviram um longo som de buzina.

Derek diz a ela: “Eu nunca deixei te amar, mesmo que você tenha partido”.

Ali um caminhão que transportava toras de madeira era freado, 
mas a estrada estava escorregadia e o que veio a acontecer 
a seguir foi trágico e terrível. O caminhão bateu na parte traseira 
do carro, de maneira tão violenta, que uma mulher por dentro foi 
lançada para fora, atravessando o pára-brisa, que despedaçava 
em milhões de pedaços de vidros juntamente com as gotas de chuva.

Tamara sorri, colocando a mão sobre o peito dele, sentindo o pulsar do coração e diz: “Eu nunca me esqueci de você, mesmo depois de minha morte.

O homem saiu do carro cambaleante, aos berros, totalmente ferido. 
Sua roupa estava encharcada de sangue. 
Um pedaço de ferro tinha trespassado no seu peito. 
Sangrava profusamente. Via o corpo da sua amada mulher caída ao chão,
 próximo ao mural de flores amarelas. 
Ele caiu no chão enquanto centenas de papéis coloridos são espalhados ao ar, 
e à medida que se molhavam com a chuva caiam pesados ao chão coberto de sangue.

Dois papéis, o amarelo e o rosa, se juntaram.
As frases que faltavam um ao outro se complementam.

Os olhos da mulher moribunda,
com o sangue escorregando na sua testa,
marejavam ao ver o homem ferido na sua frente,
que rastejava com esforço, tentando chegar a ela.
Ela tentava esboçar um sorriso o último sorriso
para o homem e depois disso
o brilho vivo nos olhos desapareceu.

No papel amarelo, dizia – O amor nunca morre....

O homem esticou o braço com a última força que tinha,
com a mão próxima a ela;
mal a tocou e sua cabeça caiu ao lado, com a chuva no seu rosto,
que misturava a suas lágrimas.
Seu corpo repousou no chão asfaltado,
formando em poço de sangue de ambos.
Os dois se foram.

No papel rosado, dizia - O amor permanece unido.



Texto e criação do autor Denis Lenzi, ao utilizar este texto, por favor, não se esqueça de mencionar a autoria.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

SOLDADOS DAS PALAVRAS

Como é duro a vida de um escritor! Ainda mais um escritor independente. Publicar um livro por conta própria requer um esforço homérico, e muita vitamina turbinada para meu cérebro continuar funcionando apesar de vez ou outra falhar e cometer alguns deslizes. Também é preciso nervo de aço para encarar uma série de problemas que possa surgir como os erros das gramáticas que se passam despercebidos, as cores da capa que não foram impressas fielmente a imagem original, os atrasos da entrega dos livros; os obstáculos como enchente e a greve de correios que impedem a realização do trabalho entre autor e leitor. Uma vontade danada de pular pela janela e espatifar lá em baixo, ou gritar com todo o fôlego capaz de causar um tremendo terremoto em algumas partes dos países. Efeito borboleta, segundo se diz por aí. Por mais que eu me esforce para melhorar o meu trabalho, mais “trecos” terei com a queda de energia perdendo todos os trabalhos revisados, o surgimento dos problemas pessoais, problemas financeiros, enfim, várias coisas poderiam acontecer no meu dia-a-dia. Até parecer uma conspiração contra mim, que me impede de ir adiante.

Calma. Respire fundo. Inspiro. Respiro novamente. Faço uma meditação. Procuro manter em equilibro, mesmo sabendo que estou andando no fio de alta tensão com um guarda-chuva, tal como a um malabarista. E penso dessa maneira: Talvez, tudo que está acontecendo, é o que impede para que a obra seja bem lapidada e melhorada antes de ser entregue ao mundo. Há sempre uma causa por trás de disso tudo. Mas mesmo assim, esse tipo de missão de ser escritor estreante é, de fato, uma tremenda dor de cabeça que nem a aspirina mais potente resolve. Continuo andando no fio de alta tensão, que chia e solta alguma faísca. Mas continuo mantendo a cabeça firme, e vou seguindo. Não posso perder a minha sanidade mental. É assim que as coisas funcionam, do modo como são.

Quem disse que vida de escritor é fácil, que é só, sentar, escrever e publicar e ficar rico, assim nem mais, nem menos, tudo apenas num estalar de dedo. Ledo engano, meu caro amigo. Se fosse assim tão fácil, 7 bilhões de habitantes seriam escritores, e nem todos os livros caberiam num espaço de estantes em um planeta tão miúdo que nem sobraria floresta por conta dos papéis que sairiam das fábricas, indo direito das gráficas que trabalham numa velocidade inimaginável, e faturando horrores pelas vendas dos produtos fúteis.

Também, vejo de outra maneira: Somos mais do que meros escritores, somos soldados de palavras. Enfrentamos os inimigos das críticas destrutivas, das resenhas ruins, dos fracassos, para podermos aperfeiçoar as nossas mentes imaginárias e férteis, a nossa busca pela essência do nosso verdadeiro e profundo ser, e trazê-lo para os papéis. Nossas canetas são nossas poderosas armas; nossas imaginações como estratégias e planos mirabolantes para triunfar sobre os problemas; tramas e reviravoltas, e resgatar as vidas tristes e solitárias dos leitores em busca das letras amigas que possam confortá-los, diverti-los e aconselhá-los. É justamente para isso que estamos aqui na terra, entre os 7 bilhões de habitantes; somos designados a sermos os soldados das palavras e cumprir os nossos deveres, até o fim de nossas vidas.

Olhando por este prisma, até que valeria a pena ser escritor e contar as (his)estórias para que os leitores se sintam mais próximos de nós, e com as mãos dadas, e sorrisos estampados no rostos, mergulhamos num universo das letras dançantes, e dos vocabulários luminosos que trespassam os nosso corpos e (ab)sorvendo a sua essências e significados, que correm furiosamente pelas nossas veias e enchem a beleza das formas sólidas dos alfabetos, e das cores reluzentes dentro dos neurônios da mente humana, que explodem como fogos de artifícios clamando pelo amor da literatura. Isso sim! É uma jornada homérica de um escritor, e com muito orgulho.


Texto e criação do autor Denis Lenzi, ao utilizar este texto, por favor, não se esqueça de mencionar a autoria.