Nyanna estava parada em frente de um imenso lixão, que mais parecia a um deserto de entulhos, dominado pelos milhões de latinhas de alumínios, montes de ferros distorcidos, papelões e outros objetos espalhadas. Há um bando de urubus que voam, e circulam no céu que mesclava entre o rosa, e o baunilha. Ali havia presença espetacular dos dois sóis, um deste era o mesmo que conhecemos há milênio dos anos, o mesmo que se chamava o Astro-rei, e o outro era cem vezes maior que o outro, chamado de planeta vermelho, com sua cor que varia entre vermelho e amarelo, daí se assemelhava a um grande sol. Ambos ficavam bem próximos do horizonte, na sombra de uma montanha íngreme. Uma visão surreal e encantadora. Enquanto havia uma beleza transcendental do sublime céu, e do seu universo com as suas estrelas que expandiam a cada dia, ali em baixo a visão é completamente outra. É triste. É desolador. Quem passa ali sente a alma ferida que leva um tempo para se cicatrizar. Por conta dos dois sóis, o calor ficava intenso durante a parte da manhã, e durante a tarde, ninguém se aventurava a ir lá fora; somente ao entardecer, quando o calor tende a ser bem menos castigante; a terra do lixão exala o fedor que vem acompanhado pelo o vento que balança os seus longos cabelos vermelhos, que dançam e balançam.
“Tia, me ajuda, por favor?”
Os olhos da Nyanna emudeceram. Vendo aquele dócil rosto da criança, seus olhos azuis e vivos, e a sua voz como um anjo, não havia como negar a um pedido daquela criança.
“Obrigada, tia!”
A menina, por incrível que possa parecer, pegou o galeão de dez litros, como se fosse uma a uma boneca. Ela tinha uma força inigualável e Nyanna ficou preocupada, temendo que o peso pudesse machucá-la. Mas antes mesmo que a mulher tomasse uma atitude, a menina disse, com um sorriso esboçado no rosto:
“Não preocupa comigo! Estou acostumada! Sempre carrego minha mãe, que pesa mais do que este galeão de água, e tenho que lavá-la todos os dias. Obrigada por tudo, tia!”
E depois disso, ela se afastou da Nyanna, e rumou por entre os montes dos lixos, sob os urubus que voavam e circulavam a redondeza, até desaparecer. O momento em que os dois sóis descem por trás das montanhas, deixando o céu ainda mais colorido. Foi o momento em que Nyanna sentiu um grande impacto como nunca sentiu antes. Ela deveria ter feito algo a mais, do que simplesmente ter ficado parada, e olhando feito uma boba para a pequena criatura. A força daquela pequena menina, sua ingenuidade em relação a tudo que está acontecendo; a pobreza; a falta de qualidade vida, de educação, do lar agradável; nada disso tirava o sorriso dela. A alegria e a esperança ainda permeavam em seu interior infantil, e assim ela se foi. Nyanna olhou para seus amigos que trabalhavam com o suor percorrendo a testa enquanto terminavam a distribuição. Ela sorriu, mas sentia um aperto de dor no coração, e em sua alma, tudo por causa daquela menina, daquele pequeno anjo sujo e sem asas. Ela desviou seus olhos para o chão, deixando a lágrima rolar no rosto. E a lágrima, com seu reflexo de dois sois dourados, caía numa fração de segundo no solo, e para sua surpresa, um único girassol, com suas pétalas amarelas, permanecia em pé, e firme em meio de todas as ferrugens e papelões. Ela sorriu. Sabia que nada disso é tarde demais. Há uma esperança.
parabéns pelo blog!!!
ResponderExcluirobrigada pelo comentário...
=D