quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Os Papeis do Destino




Derek está sentado no banco do ponto de ônibus, sozinho. Seus olhos abrem bruscamente e olha ao seu redor. Sua mão alcança alguma coisa, como que quisesse pegar alguma coisa - algo que deixou escapar! E logo percebe que não há ninguém por perto. Era uma tarde chuvosa e fria. Olha para o movimento na rua molhada. Seu pensamento está distante, em silêncio. Seu semblante está triste e uma lágrima que desce no rosto acaba por cair por cima do papel amarelo, e das palavras escritas nele. Vento gélido sopra seu rosto e arranca um pedaço de papel na sua mão, que voa para o outro lado da rua.

Caía a chuva cântaro por sobre aquela estrada longa e retilínea.
Surgiu um carro com os faróis acessos que iluminavam
a estrada de asfalto molhada,
com milhões de gotas de chuva brilhantes.
Os pentes do para-brisa moviam-se de um lado para outro,
enxugando as lágrimas de uma noite de tempestade.
Um homem gesticulava e sua voz parecia
um trovão ao expressar a sua raiva pela mulher
sentada ao seu lado.

Tamara está sentada no banco do ponto de ônibus. Está sozinha com um livro em sua mão. Atrás dela um enorme muro pintado totalmente de flores amarelas. Não há ninguém por perto. O sol brilha em seu rosto claro e sereno. Seu pensamento está focado nas palavras que transbordam nos papéis. Sua feição está incrivelmente triste. Algo aconteceu a ela. Vento primaveril sopra em seu rosto e arranca de sua mão um pedaço de papel rosado, que voa para outro lado da rua.

A mulher ao lado chorava, com seus olhos avermelhados e
tentava se acalmar em vão.
O homem pisou fundo, acelerando a velocidade,
deixando-a ainda mais aflita.

Derek espirra e ajeita o casaco. Olha suas mãos por um breve momento, tentando entende todas as coisas. O vento continua a soprar e um pedaço de papel rosado surge do nada e gruda em seu peito, como algo que agarrasse a esperança daquele homem solitário. Ele pega o papel rosado e lê.

O carro atravessou numa velocidade assombrosa
preste a decolar.
O chão da estrada estava escorregadio.
O motorista estava sendo muito imprudente naquela hora,
sem pensar na real conseqüência que poderia vir.

Tamara fecha o livro, ajeitando o cabelo. Coloca o livro em sua bolsa quando um pedaço de papel surge por sobre seu colo, que abre e revela as suas palavras impregnadas nele. As três palavras poderosas.

A mulher gritava, desesperada chorando muito:
Para! Para!! Pelo amor de Deus!! Está me assustando!”

Derek sorri após de ler um pedaço de papel e seus olhos marejam.

O rosto do homem estava tomado de cólera e de fúria.
As veias saltam do seu pescoço. Ele berra:
Tá com medo?” Ela sentiu o cheiro de álcool que exalava de sua boca.

Tamara sorri e sente seu coração palpitar com força. Parecia que tinha uma lembrança despertada. Algo que não se lembrava, mas que lembrou e que entendeu tudo.

A mulher chorava e implorava ainda, temia pela segurança dos dois:
Por favor, não deixe que o ódio domine você.
Eu te amo tanto, querido. Por favor, diminua a velocidade!

Derek, sentindo impulsionado a virar o rosto para o lado, como que alguém lhe chamasse, alguém que lhe esperando do outro lado. E assim o fez.

Ele a encarava com desdém.
Sentia raiva dela. Suas mãos agarravam o volante
com tamanha fúria e desvia-o.
O carro dá uma virada na curva da estrada e
por pouco quase capota.

Tamara suspira e olha para o outro lado da rua, sentindo uma estranheza - alguém lhe olhava. Não sabia por que e como, mas mesmo assim, virou o rosto para lado e viu o homem do outro lado da rua.

As lágrimas rolavam no rosto da mulher e
Ela colocou a sua mão por sobre a dele,
com a esperança de acalmá-lo e
fazê-lo diminuir a velocidade.

Derek vê uma mulher sentada no banco do ponto de ônibus, com lindos desenhos de flores amarelas pintado no mural atrás dela, formando uma bela imagem que agrada aos seus olhos.

O homem olhou de modo nervoso para a mulher,
que lhe clamava para que ele parasse com aquela loucura.
No colo dela há uma caixa
cheia de papeis coloridos e cada papeis há escritos neles.

Tamara contempla a beleza daquele homem sentado no banco do ponto de ônibus, que segura um guarda-chuva, embora não haja chuva naquela tarde. O homem acena assim que a mulher o olha.

O homem pisou o freio, e o carro escorregou,
deslizando por sobre
a fina camada de água na estrada,
rodopiando como um carrossel.
A mulher gritou desesperadamente.
As unhas do homem cravaram no volante.

Tamara, parada, com o seu coração almejando por aquele amor, vê-lo se levantar e atravessar a rua. Ela sorri.

O carro parou de rodopiar e as luzes dos faróis iluminavam 
em frente do longo mural pintado de flores amarelas. 
Foi por um triz. Mais dois metros seria atingido por 
aquele mural e os dois sairiam gravemente feridos. 
A mulher soltou um suspiro aliviado, 
mas lágrimas ainda rolaram seu rosto, 
olhando para o homem, cabisbaixo, caindo na real. 
“O que está acontecendo comigo?”

Derek chega em frente a ela. Ela fica sem palavra. Ele entrega um pedaço de papel rosado a ela. Ela entrega o papel amarelo a ele.

A mulher enxergou as lágrimas, e passa a mão no cabelo 
do seu marido, e disse: 
“Está tudo bem, meu amor!” 
o homem olhou para ela e seu rosto expressava um misto 
de arrependimento e choro. A mulher tirou o cinto de segurança e 
o abraçou. Antes que ele abrisse a boca, 
as luzes dos faróis por detrás deles invadiram o carro e 
ouviram um longo som de buzina.

Derek diz a ela: “Eu nunca deixei te amar, mesmo que você tenha partido”.

Ali um caminhão que transportava toras de madeira era freado, 
mas a estrada estava escorregadia e o que veio a acontecer 
a seguir foi trágico e terrível. O caminhão bateu na parte traseira 
do carro, de maneira tão violenta, que uma mulher por dentro foi 
lançada para fora, atravessando o pára-brisa, que despedaçava 
em milhões de pedaços de vidros juntamente com as gotas de chuva.

Tamara sorri, colocando a mão sobre o peito dele, sentindo o pulsar do coração e diz: “Eu nunca me esqueci de você, mesmo depois de minha morte.

O homem saiu do carro cambaleante, aos berros, totalmente ferido. 
Sua roupa estava encharcada de sangue. 
Um pedaço de ferro tinha trespassado no seu peito. 
Sangrava profusamente. Via o corpo da sua amada mulher caída ao chão,
 próximo ao mural de flores amarelas. 
Ele caiu no chão enquanto centenas de papéis coloridos são espalhados ao ar, 
e à medida que se molhavam com a chuva caiam pesados ao chão coberto de sangue.

Dois papéis, o amarelo e o rosa, se juntaram.
As frases que faltavam um ao outro se complementam.

Os olhos da mulher moribunda,
com o sangue escorregando na sua testa,
marejavam ao ver o homem ferido na sua frente,
que rastejava com esforço, tentando chegar a ela.
Ela tentava esboçar um sorriso o último sorriso
para o homem e depois disso
o brilho vivo nos olhos desapareceu.

No papel amarelo, dizia – O amor nunca morre....

O homem esticou o braço com a última força que tinha,
com a mão próxima a ela;
mal a tocou e sua cabeça caiu ao lado, com a chuva no seu rosto,
que misturava a suas lágrimas.
Seu corpo repousou no chão asfaltado,
formando em poço de sangue de ambos.
Os dois se foram.

No papel rosado, dizia - O amor permanece unido.



Texto e criação do autor Denis Lenzi, ao utilizar este texto, por favor, não se esqueça de mencionar a autoria.