Ele treme. Geme. Corpo suado. Tem sonhos distorcidos. Sente medo indescritível que percorrer por todo seu corpo. Sente o impacto do corpo como se caísse de uma cadeira ou para fora da cama. Sente a falta de ar, como se estivesse sendo asfixiado dentro de um saco plástico. Sente palpitações. Sangue gelado. Grito. Gemido. Agitação. Quando tudo se torna insuportável, ele acorda aos berros.
Sai da cama e vai até a geladeira. Toma um gole de água gelada. É noite quente. Vai à sacada do apartamento. Era madrugada, mas o ar estava quente. Até o vento sopra infernalmente quente, que envolve seu corpo seminu e forte. A cidade está silenciosa. Morta. As ruas iluminadas pelas luzes de cor âmbar dos postes. Seus olhos focam numa pessoa deitada na rua. Um mendigo. De longe, pode-se notar seus olhos vermelhos e brilhantes. Ele está olhando para você, pensa ele. Que estranho! Como é que seus olhos ficam vermelhos e brilhantes? Aquilo não é normal! De repente, sente medo. Aquele mesmo medo que teve antes. No sonho. Ou melhor, no pesadelo. O mendigo se levanta e seus olhos vermelhos permanecem fixos nele. Afasta-se da sacada sem tirar os olhos do mendigo na rua, que olha e parece sorri. Pouco antes de entrar, ele toma um susto ao ver que o mendigo estava levitando. O cara da rua está levitando, Deus-do-céu!! Parece que está indo em sua direção.
Entra na sala e fecha a porta. Tudo aquilo é só uma imaginação. Parecia que tinha acabado de assistir um filme da TV Limite do Além quando era criança. Recorda-se então, de repente, o mendigo do passado. Quando tinha 12 anos, atirou-o com uma pedra lançada por um estilingue, apenas por diversão sem nenhuma consciência. O mendigo ficou ferido e saiu cambaleante pela rua da cidade e nunca mais voltou. Só ficou sabendo no dia seguinte, pelo jornal.
MENDIGO ENCONTRADO NA RUA, ASSASSINADO.
Seria o mesmo mendigo a quem feriu com uma pedra no dia anterior? Depois disso, nunca mais jogou pedra paraem ninguém, e nem em animais. Enterrou o estilingue com medo de ser pego, e julgado. Passaram semanas e nenhum culpado foi encontrado. Um grande alívio para o menino que se tornou homem com consciência do passado de ontem; pesadelo o assombra todas as noites de verão.
Respira fundo e tenta acalma-se. Passam-se alguns minutos, ele tenta aproxima-se da sacada e vê se o mendigo ainda está lá fora. Está, sim! Na sacada; por dentro; Olhando para ele. Seus olhos vermelhos e brilhantes se assemelham como as chamas do inferno. Ouve uma alma gritando por dentro dele. Está rindo. Rindo dele. Ali há um pesadelo. Um pesadelo real e palpável. O homem não grita; não pisca e nem mexer. Sabe que nada adiantaria fugir de um pesadelo, pois este está dentro da sua mente. O mendigo se transforma em um ser demoníaco, horrendo, e suas mãos em garras chegam próximas a ele. O homem enfia a mão no bolso e retira um coração que bate furiosamente, jorrando sangue por entre os seus dedos até explodir.
Ele não acorda aos berros como costume todas as noites. Nem mexe. Nem geme. E nem respira.
Causas Mortis: Enfarte.
Texto e criação do autor Denis Lenzi, ao utilizar este texto, por favor, não se esqueça de mencionar a autoria.
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Parabéns pelo conto, Denis !!!
ResponderExcluirGostei e acho que vou ter pesadelos esta noite... (rs.rs.rs)
Visitarei sempre que puder...
Grande abraço !